Equipe brasileira conseguiu deter tumores de pulmão e próstata em camundongos.

Técnica também serviria para enfrentar doenças cardiovasculares.
Reinaldo José Lopes Do G1, em Águas de Lindóia

Pesquisadores brasileiros estão usando com sucesso vírus especialmente projetados para consertar os defeitos genéticos que permitem o surgimento do câncer. Em testes feitos com animais, a estratégia, a chamada terapia gênica ou geneterapia, mostrou-se capaz de deter o avanço de dois dos principais tumores que afetam a população do país.

Os resultados animadores foram relatados durante a XXII Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, que acontece até este sábado (25) em Águas de Lindóia, no interior paulista. Bryan E. Strauss, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), e Eugenia Constanzi Strauss, da USP, fazem questão de frisar que ainda não há previsão de testes da técnica em pacientes humanos. Mesmo assim, a dupla se mostra empolgada.

“Os resultados têm sido realmente excelentes”, afirma Eugenia Strauss. A terapia gênica é uma promessa relativamente antiga para o tratamento de doenças de forma precisa e racional, mas ainda não há nenhum protocolo disponível comercialmente mundo afora. No entanto, há sinais de que a tecnologia está ficando madura, resolvendo problemas como o risco de alterações na porção de DNA “saudável” dos pacientes. No passado, essas alterações chegaram a causar a morte de algumas pessoas em testes clínicos.

O casal Strauss e seus colegas estão usando uma das abordagens clássicas da geneterapia, que consiste em usar certos tipos de vírus como “cavalos-de-tróia”. Os vírus recebem os trechos de DNA que os pesquisadores desejam inserir nas células cancerosas. Depois, ao se replicarem e invadirem o organismo, acabam fazendo de graça o serviço desejado. Há outras abordagens geneterapêuticas que não usam vírus, mas a dos cavalos-de-tróia tem justamente o apelo de espalhar o DNA desejado pelo tecido-alvo.

A técnica foi testada experimentalmente em tumores humanos que foram “semeados” debaixo da pele de camundongos de laboratório. Eugenia Strauss explica que a idéia é interferir justamente na regulação do ciclo celular, possivelmente a chave de todos os tipos de câncer. É que as células cancerosas são do tipo que não sabe quando parar: seu ciclo celular se desregula e elas se multiplicam a esmo.

Com a inserção de genes reguladores do ciclo celular, espera-se que elas caiam em si, “percebam” que há alguma coisa errada e iniciem o chamado processo de apoptose, ou morte celular programada. “Nós queremos criar uma solução desse tipo que possa funcionar em vários tipos de tumor e que não dependa de atacar as modificações genéticas mais específicas de cada câncer”, explica ela. Nos camundongos, tumores de pulmão (os mesmos que aparecem por causa do fumo em humanos) e de próstata foram atacados com sucesso.

Um dos planos para o futuro, além de possíveis testes clínicos, é também usar a estratégia contra problemas cardiovasculares. Quando um vaso sangüíneo é seriamente danificado, pode ocorrer a multiplicação descontrolada de células que fecham aquele ferimento. Mas entre as células o inferno também está cheio de boas intenções: esse curativo acaba tapando a passagem do sangue e causando uma série de problemas. “Acontece que essa proliferação é muito parecida com o que a gente vê em tumores, o que sugere que poderíamos usar alguns dos mesmos genes para evitá-la”, explica Strauss.

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